- Sorri - Disse aquela voz rouca e bem baixinha perto da sua nuca, alguns fios de cabelo soltos perto do espaço entra o pescoço e a orelha se sacudiram fazendo cócegas, e antes que pudesse mover quase que involuntariamente os seus lábios e bochechas, outra voz surgiu:
- E qual seria o motivo, minha cara? - Desta vez, a voz era macia e envolvente, não era possível nem distinguir se eram a mesma, mesmo com tantos ecos em sua mente.
Passou a tarde perdida em outras vozes que só ela ouvia, e se deixando levar também pela sinfonia da musica instrumental que ela ouvia em seu fone de ouvidos. Transportava-se para a bagunça de momentos misturados em reais ou não.
Passou a tarde com seu caderno de matemática, mas não estudou, nesta tarde sua companhia foram as palavras e os sons, principalmente o som do vento balançando as cortinas quando havia um intervalo na repetição da musica.
Passou a tarde entretida em entender olhares e reações, a repensar em atos de descuido próprio. Estava a lamentar-se, e não só isso, é claro, ficou sentada por muito tempo na beira de imaginações por não querer se iludir com o que queria que fosse realidade, e dai veio às lembranças, e com ela a saudade.
- Troca e musica, troca o disco, troca essa cara séria por um sorriso - Disse novamente a primeira voz quando tenha ficado distraída olhando para uma pequena bagunça de estava na mesa. Em meio tantos objetos esquecidos havia um anel que só mantinha o brilho em sua pedra, porque o seu aro, de dourado fez-se uma mistura de marrom e cinza, quase que confusa, e ai, neste exato ponto ela se identificou.
- Mas onde está seu brilho? Ah, você não tem mais, se é que teve um dia - veio à tona aquela segunda voz que a fez por um momento parar de sentir, ouvir, ver e lembrar. Aí então, a musica acabou e o vendo não faz barulho algum, nenhuma voz soou, mas ainda ouvia borbulhos, quase que acreditava que vinha de dentro, então fechou os olhos e colocou os pés que estavam no assento da cadeira, no chão, e desejou quase que implorando, sentir outra perna encostar na dela, a perna de alguém que assim como ela, estivesse perdido em atitudes erradas, imaturas.
Em meio essa turbulência, uma voz ambígua foi ouvida, acompanhada de uma aproximação de sobrancelhas, e ela dizia:
- O que você ta pensando?
E essa pergunta estrondou dentro de si sem nenhuma resposta, mas a voz continuou a falar que quase parecia sair de si pelo fato da sua garganta se sentir forçada:
- Tanto drama, tanta lamentação, tanta saudade, tanta imaginação, tanto isso e aquilo, que dá para fazer um baile daqueles grandes, daqueles que se precisa de muita organização (ou não), e muitos fotógrafos para eternizar tanta coisa, algumas coisas até absurdas, só pra ficar de lembrete para não por tanto vinho a disposição. Olha, mal fiquei aqui, cinco minutos contigo e já citei "tanto", "tanta", um milhão de vezes, parecendo aquela música que você tava ouvindo mais cedo, só repetindo, repetindo. Preste atenção, você deveria pegar algumas coisas minhas para você, como o vinho... Não! Não é pra se embebedar mocinha, novamente interpretando as coisas de forma errada, que mania chata, estava falando sobre lembrar de não servir tanto vinho, aprender, essas coisa, não ficar se lamentando pelo que aconteceu, sem papinho de que poderia ter sido melhor, ou coisinhas do tipo, é meio que entender que o vinho no copo de plástico não se torna suco, é aceitar, só aceitar - E com um estralo, como aquele barulho feito com o dedão e o dedo do meio, seus olhos se abriram e viu a única coisa que tinha escrito em seu caderno:
"Passou a tarde"
Olhou o horário em seu celular e já era noite, fez silencio esperando algum barulho, mas não se ouvia nada, nenhuma voz, nem de dentro nem de fora.
Parecia outro dia.
(06/10/11)
me emociona profundamente o jeito que você escreve.
ResponderExcluir