sábado, 8 de outubro de 2011

Vozes, Parte 2

Talvez não tivesse passado de um grande e atordoado pesadelo infame que quis estar com ela não só durante a noite.
Pareceu ser pior do que querer gritar e sua voz falhar, correr e não conseguir sair do lugar.
Pareceu pior porque não adiantaria fechar os olhos com força e acordar onde tudo era mais tranqüilo.
Passou outra tarde a pensar, desta vez, a pensar nas vozes "ouvidas" no dia anterior e a voz real do dia de hoje, que dizia muito, mas precisava de um tempo para saber onde encaixar tudo isso.
Talvez estar acordada seja o verdadeiro pesadelo, e o não-gritar seja falar e não ser ouvida e o não-correr seja essa pressa desesperada de que fique tudo bem.
Esperou o momento certo para fechar os olhos, ou abri-los bem quando o que mais temia estivesse a uma distancia tão pequena que fosse possível sentir sua respiração.
Seus joelhos se fizeram desleais a suas ordens e despencaram junto ao amolecer de sua coluna e a sua queda foi ao lado do temido e suposto pesadelo que de perto se fez frágil e incrédulo também. "Senti sua falta", pensou ao se sentir entendida, ou sentir que não estava sozinha, sentiu falta dessa sensação.
Tuas garras, carapaça e textura áspera se tornaram incrivelmente no melhor lugar para se encostar e se estar, e neste porto seguro, a pequena rambutã - digo rambutã pela sua aparência forte, como se tivesse espinhos enquanto por dentro é alva e macia - conseguiu fazer o que antes doía: molhar o canto dos olhos.
Foi então que percebeu as coincidências da sua realidade com a sua "ilusão" e sentiu-se pesadelo também, da melhor forma, acompanhada e (sub)entendida.
Pelos sonhadores
Quase entendeu definitivamente o sentido das vozes, e quase distinguiu meticulosamente tudo o que se foi ouvido, quando um coro foi ouvido junto com o som da porta abrindo:
- Podemos ir?
Sabia que conhecia aquelas vozes, mas antes que pudesse ter certeza que as conhecia, outra voz soou:
- Acho que eu vou ficar
Ela reconheceu aquela sedutora sem muito pensar.
- São aquelas vozes de novo
Sussurrou levando as mãos ao rosto
- Você achou mesmo que tudo se resolveria? Pode me chamar de Dúvida, apesar do nome feminino, sou muito forte e estive presente todos esses anos ao seu lado, tento que já me destes vários apelidos, somos íntimos pelo jeito - riu sem mover os lábios -Como é mesmo que me chamas? - Fez como se estivesse a tentar lembrar de coisas antigas ou até importantes, mas que fogem da mente quando precisam ser lembradas - Ah é... Medo, Angustia e até mesmo... Hum... Arrependimento.
(07/10/11)

Um comentário:

  1. dúvida, medo, angustia e arrependimento: são enraizados e sempre voltam com uma desculpa do por quê de existirem dentro da gente.

    tem como exterminar?

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